EVOLUÇÃO DOS NÚMEROS ABSOLUTOS DOS SUICÍDIOS NO BRASIL NAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS
Autor: Francisco Sérgio da Silva Evangelista
Graduado e Pós Graduado respectivamente; em Matemática
e Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública.
SOCIOLOGIA DO SUICÍDIO
O
fenômeno da Violência e da Criminalidade nestas três últimas décadas tem chamado
atenção de todos, também chama atenção outro fenômeno que vem crescendo progressivamente
e constante o chamado homicídio intencional de si mesmo, popularmente conhecido
como Suicídio. Segundo o Mapa da
Violência/2013 – (Homicídio e Juventude no Brasil), suicidaram-se 196.038
pessoas entre 1980 a 2010, das quais 41.387 eram jovens entre 15 a 24 anos, e
154.651 eram não jovens com menos de 15 anos e acima de 25 anos de idade e
conforme interpretação do outro Mapa da Violência/2013 – Mortes Matadas por
Arma de Fogo, dos 196.038 suicídios, 34.052 foram cometidos por uso de Arma de Fogo.
Historicamente, o ato de autodestruição consciente ou inconsciente, individual
ou coletivo sempre foi complexo e de difícil compreensão, as causas e as
consequências podem ser as mais diversas, cada caso é um caso em particular,
que deve ser observado e estudado em cada situação a intencionalidade e a
letalidade do ato consumado.
O ato
de se matar, nas civilizações primitivas estava ligado às normas do grupo, isto
é, quando as normas eram quebradas por um indivíduo do grupo, este era
incentivado pelos os outros para cometer tal ato. Nestas sociedades os costumes
e tradições eram sagrados, a quebra destes configurava um crime grave. Os
velhos das civilizações primitivas, como por exemplos, os velhos esquimós,
separavam-se do grupo para morrer. Ao
contrário dos povos primitivos, na Antiguidade greco-romana o ato de se matar
era proibido, só a sociedade poderia autorizar tal ato, isto é, o indivíduo não
tinha o poder de decisão pessoal. Nestas civilizações, os suicidas não tinham
direitos a rituais funerários e suas mãos eram enterradas separadamente, por
serem consideradas mãos assassinas. Em Roma, os suicidas não tinham direito a
uma sepultura e seus bens eram confiscados pelo Estado, só o Senado tinha o
poder de autorizar o suicídio. Na Idade Média, a vida pertencia a Deus, assim
como o indivíduo, matar-se passou a ser um sacrilégio e um crime, os suicidas
eram arrastados pelas ruas, pendurados, queimados e seus bens confiscados. Nas
Sociedades Orientais, como China, Índia e Japão, o suicídio era um ato legal e
em algumas circunstâncias obrigatório e muitas vezes impostas pelos valores
culturais. Atualmente, no Brasil, auxílio a uma pessoa a praticar o suicídio é
crime, conforme artigo 122 do Código Penal Brasileiro.
O
Sociólogo Francês Émile Durkheim ao definir e classificar o suicídio em quatro
tipos diferentes e cada um com relações entre o individuo e o grupo social para
facilitar à compreensão dos motivos básicos de tal ato, segundo ele, as causas
não podiam ser explicadas por enfermidade mental, fundo étnico ou racial, pois,
havia algo sobre o próprio grupo em si que encorajaria ou desencorajaria o homicídio
intencional de si mesmo. Portanto, para ele, o suicídio é: “Todo caso de morte
que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo,
executado pela própria vítima e que ela sabia que deveria produzir esse
resultado. A tentativa é o ato assim definido. Mas interrompido antes que
resultasse na morte”.
Segundo
sua classificação tem: O “Suicídio Egoísta” baseado na vontade pessoal é quando
o indivíduo é separado do seu grupo social e não consegue ser aceito novamente,
em outras palavras o indivíduo sofre isolamento excessivo do grupo, desesperado
e sozinho, o individuo perde a razão de viver e suicida-se, a religião e a
família pode impedir tal ato. Outro tipo é o “Suicídio Altruístico” é o contrário
do primeiro, o individuo tem um apego excessivo com o grupo social ou a
comunidade, neste tipo, o individuo morre pelos os outros do grupo, um exemplo
são os terroristas. O terceiro tipo, o “Suicídio Anômico” é quando um grupo ou
uma comunidade sofre ausência de normas e seus valores tradicionais e
diretrizes desmoronam criando situações de desorganização social, isto é, a
sociedade falha e o indivíduo se sentem desorientado. Um exemplo é o suicídio
dos jovens adolescentes com a separação dos pais. O último é o “Suicídio Fatalista”
é quando uma sociedade ou um grupo social tem um alto controle sobre as emoções
e motivações dos seus indivíduos, tal controle leva os indivíduos a tomar
atitudes que em outras circunstâncias não o fariam. Um exemplo é o suicídio
coletivo, geralmente cometido por integrantes de seitas religiosas e outras.
Existem,
entretanto, vários fatores que podem causar um suicídio. Podemos citar os
fatores constitucionais, sociais, psicológicos, culturais, biológicos,
ambientais e outros. Em outras palavras, as hipóteses podem ser desde uma jovem
abandonada pelo namorado ou vice-versa, o velho enfermo, os jovens, com a
separação dos pais, a mãe abandonada pelo marido ou vice-versa, o homem ou a
mulher que fracassou economicamente, perda do emprego, depressão, luto, o
defensor da honra, histórico do alcoolismo, drogas e outros entorpecentes, as
famílias desestruturadas e tantos e tantas outras possíveis causas.
Uma
pergunta deve ser feita. É possível prevenir o suicídio? Uma resposta difícil
de ser dada, pois pelo próprio conceito verifica que o suicídio é um homicídio
efetuado pela própria vitima. Podemos tal vez, prevenir em alguns casos quando
o individuo que está com problemas pedir ajuda e também podemos prevenir ou
evitar a segunda ou outras tentativas observando o comportamento, sentimentos e
relacionamentos. A maioria dos indivíduos que se matam fala antes sobre isso.
Esses comentários devem ser sempre levados a sério. Qualquer tentativa de
suicídio significa que o individuo está profundamente perturbado e precisa de
ajuda imediatamente. Um suicida tentará de novo e escolherá um método mais
fatal na segunda ou terceira vez. Portanto, quem diz que vai cometer o suicídio
e quem tentou e fracassou, sempre pensaram os dois em morrer.
Nas duas
últimas décadas do século XX, foram 110.489 homicídios intencionais de si
mesmo, mas conhecido como “suicídio”. Observa-se, segundo o gráfico 01 abaixo,
que na década de oitenta os números de suicídios no Brasil ficou estável,
enquanto, na última década houve um crescimento.
Gráfico
01/2013 – Números Absolutos de Suicídio no Brasil entre 1980 a 2000, na
população total.
Fonte:
Mapa da Violência/2013 – Homicídio e Juventude no Brasil.
Já no
século atual, os números absolutos dos suicídios chama atenção, foram 85.549 na
primeira década, isto é, entre 2001 a 2010, segundo o gráfico 02 abaixo.
Gráfico
02/2013 - Números Absolutos de Suicídio no Brasil entre 2001 a 2010, na
população total.
Fonte:
Mapa da Violência/2013 – Homicídio e Juventude no Brasil.
O
contexto atual segundo apontam vários Mapas da Violência, é bastante oportuno
para analisarmos e refletirmos sobre a situação dos jovens, quanto ao tema da
violência e da criminalidade no Brasil, especialmente, aqueles considerados
jovem entre etária dos 15 aos 24 anos e o não jovem com menos de 15 anos de
idade e os com mais de 25 anos, que tiram suas vidas pelas próprias mãos.
Observa-se, que tais práticas têm aumentado entre adolescentes e jovens
adultos. Segundo gráfico 03, mostra esta crescente evolução dos suicídios entre
a população jovem e não jovem nas últimas duas décadas do século XX, isto é,
dos 110.489 suicídios, 24.716 eram jovens e 85.773 eram pessoas não jovens.
Gráfico
03/2013 – Números Absolutos de Suicídios no Brasil entre 1980 a 2000, na
população jovem e não jovem.
Fonte:
Mapa da Violência/2013 – Homicídio e Juventude no Brasil.
A
crescente evolução dos suicídios entre a população jovem e não jovem no Brasil
continua acelerada, infelizmente, no século XXI. Segundo o gráfico 04 a seguir:
Dos 85.549 suicídios praticados entre 2001 a 2010, foram 16.671 suicídios na
população jovem e 68.878 não jovens.
Gráfico
04/2013 – Números Absolutos de Suicídios no Brasil entre 2001 a 2010, na
população jovem e não jovem.
Fonte:
Mapa da Violência/2013 – Homicídio e Juventude no Brasil.
HOMICÍDIO INTENCIONAL DE SI MESMO POR ARMA DE
FOGO
Portar
uma Arma de Fogo ou guarda-la em casa é sempre um ato de violência potencial.
Segundo interpretação do Mapa da Violência/2013 – Mortes Matadas por Armas de
Fogo: “Entre 1980 e 2010, foram 799.226 mortes por disparos de algum tipo de
arma de fogo - AF. O alto crescimento das mortes por armas de fogo foi puxado,
quase exclusivamente, pelos homicídios
com um total de 670.946 e os suicídios com 34.052”. Conforme o gráfico
05, nas duas últimas décadas do século XX, foram 22.035 suicídios com disparo
por arma de fogo no Brasil. Observa-se, no gráfico, que na década de oitenta os
números de suicídios por disparo com arma de fogo no Brasil ficou estável,
enquanto, na década seguinte houve um crescimento, devido talvez à corrida
armamentista nestas duas décadas, principalmente, nos anos 90.
Gráfico
05/2013 – Números Absolutos de Suicídios por Disparo com Arma de Fogo no
Brasil, entre 1980 a 2000, na população total.
Fonte:
Mapa da Violência/2013 – Mortes Matadas por Armas de Fogo.
Entre
2001 a 2010, foram 12.017 suicídios com disparo por arma de fogo no Brasil. Conforme
se pode notar neste último gráfico 06, houve nesta primeira década do século
XXI, uma diminuição acentuada e significativa nos homicídios intencional em si
mesmo (suicídio). Sem dúvida, o Estatuto do Desarmamento produziu efeitos
significativos para tal redução.
Gráfico
06/2013 – Números Absolutos de Suicídios por Disparo com Arma de Fogo no
Brasil, entre 2001 a 2010, na população total.
Fonte:
Mapa da Violência/2013 – Mortes Matadas por Armas de Fogo.
Oito milhões de Armas são produzidas
anualmente e o EUA é o maior exportador com um terço do comércio de armas
convencionais no mundo. Em abril deste ano, foi aprovado na Assembleia Geral da
ONU, o primeiro tratado sobre Comércio de Armas (Arms Trade Treaty - ATT), com
a participação de 110 países que assinaram o acordo, incluindo os Estados
Unidos. O Brasil já assinou e aguarda a manifestação dos Ministérios das
Relações Exteriores, da Defesa e da Justiça antes de enviar o texto para ratificação
no Congresso Nacional. Para entrar em vigor o Tratado é preciso de 50
ratificações.
Sem
dúvida, um importante passo mundial foi dado, o acordo global traz mais
transparência no comércio internacional de armas e munições, evitando que as
mesmas caiam em mãos erradas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Aplicada (Ipea). Difusão de armas
de fogo aumenta número de homicídios. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17514&catid=8&Itemid=6
BRASIL, Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Compra de armas por pessoa cai 40,6% após
Estatuto . Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17490&catid=8&Itemid=6%20
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José Albertino. Émile Durkheim. Sociologia. 9ª edição. Editora Ática.
KOVÁCS.
Maria Júlia. Morte e desenvolvimento Humano. São Paulo. 5ª edição, 2010.
WAISELFISZ,
J. J. Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil. Rio de Janeiro:
Instituto Sangari, 2013.
WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2013:
Mortes Matadas Por Arma de Fogo. São Paulo: Instituto Sangari, 2013.
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